sábado, 15 de janeiro de 2011

11a. Etapa: Burgos - Hontanas (31 km)

Meus amigos de caminhada Frank e Heiko saíram mais cedo e eu fiquei para traz com Fábio. Acordei um pouco melancólica, pensando em minha vida e em como deixara de ser eu durante tanto tempo! Não sei porquê mas não conseguia conversar (o que não era normal, já que geralmente falava muito). Fábio (o brasileiro que eu havia conhecido) ao perceber meu estado de espírito ia contando piadas (como descendente de português ele tinha uma gama enorme de piadas de português para contar). Resolvi então dizer que não seria bom seguirmos juntos, mesmo ele sendo uma ótima companhia e um amigo que pretendia preservar! Eu precisava seguir sozinha, caminhar com ele me faria falar mais do que ouvir a mim mesma, mais do que refletir! Não foi fácil dizer a Fábio que eu não queria seguir caminho com ele, como uma boa brasileira tinha medo de magoá-lo e não sabia como dizer, mas o Caminho aos poucos me mostrava que tudo é feito de escolhas e que devemos ter coragem para enfrentar as nossas.
Paramos em Villalvilla, sentamos em um bar, tomei um chocolate quente e comi algo, Fábio me entregou uma medalha de São Miguel e uma mensagem que ganhara em Saint Jean, pendurei a medalha em minha mochila e depois de um abraço apertado e emocionado segui em frente, não foi fácil a despedida…
Poucos passos depois eu já estava chorando, eram sentimentos, pensamentos, emoções que me invadiam e deixavam minha cabeça a mil por hora. Momentos depois meu coração foi tomado por uma sensação de liberdade! Estava caminhando nas mesetas, sozinha, era uma planície de um verde maravilhoso, parecia não ter fim, ou melhor, terminava onde começava o céu, naquele azul limpo, com nuvens branquinhas parecendo algodão doce, me sentia como uma criança que acaba de ganhar um pirulito e está pronta para lambuzar-se com o doce que a vida está oferecendo! O choro novamente veio a tona, mas agora era de emoção, aquela que ultrapassa os limites do corpo e precisam sair em forma de lágrimas. Mentalmente agradecia por estar ali e por ser tão feliz…


Comecei a cantar muito alto: "Viver, e não ter a vergonha de ser feliz...", e mesmo que tivesse alguém comigo não me importaria! Estava feliz e precisava por para fora! Confesso que estava parecendo um pouco maluca, mas o que é normal?
Foram mais ou menos 11 km na meseta e no final começou a ficar massacrante! Sentia sede e fome, o sol castigava, não havia sombra alguma e eu não podia parar, passei por Arroyo Sambol e continuei, só queria parar no próximo pueblo para comer, descansar e seguir mais um pouco.
Depois de uma descida acentuada vi a cidade nascer do chão, como a miragem de um Oasis no meio do deserto, mas este meu Oasis tinha uma igreja antiga, mesas, guarda – sois, bicicletas, peregrinos, muita cerveja gelada e o melhor, meus inseparáveis amigos Frank e Heiko! Seria ali minha parada! Meu coração estava repleto de alegria.

Heiko escrevendo em seu diário.


Conheci o carioca Eduardo, figura muito simpática que me perguntou porque eu estava fazendo o caminho (pergunta impossível de se responder). Tinha mais dois brasileiros e a D. Maria que estava no albergue municipal. Fui conversar com ela depois do jantar e ela estava com uma tendinite muito feia, com os pés bem inchados! Iria pegar um taxi no dia seguinte pois seria impossível andar.
Desejei boa sorte, boa noite e fui dormir! Mais uma etapa vencida!

2 comentários:

  1. Amiga mais uma vez muito lindo seu relato!!! Me senti bem próximo de vc lendo esta etapa. Tem momentos na vida que realmente temos que tomar decisões, mesmo magoando alguém que amamos muito. Estes momentos de "loucura" nos tornam sãos a medida que internalizamos o sentimento mais verdadeiro de coragem de sermos nós mesmos. Beijos amiga!!!

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  2. JFKennedy disse um dia....."A vida é uma sucessão de derrotas que nunca termina e de vitórias que nunca satisfazem". .......Embora mudar tudo isso Peregrina???!! Bom caminho.....muita reflexão. e sucesso.........

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