domingo, 18 de novembro de 2012

21a Etapa: Villafranca del Bierzo – Cebreiro (Sozinha na montanha?)


Meus amigos de caminhada saíram mais cedo, eu não podia perder a oportunidade de um último papinho com Jato. Fui tomar café da manhã no albergue, ganhei um cajado onde Jato escreveu: “Laila, que tudo seja Luz”, me despedi do Carlos (hospitaleiro) que me presenteou com uma pulseira do albergue (ainda hoje no meu braço) e saí, com o coração apertado e desejando ficar! Fabrício ainda ficou por lá, sairia um pouco mais tarde!
Na saída de Villafranca tinha 2 opções a escolher: Ou seguir pela carreteira ou pelas montanhas, para esta última opção uma placa avisava que era uma rota somente para peregrinos bem preparados! Eu via os peregrinos pararem em frente à placa e seguirem pela carreteira, mas como sentia–me a “super peregrina” resolvi seguir pelas montanhas (não sei por que, mas sentia uma atração em andar nas montanhas). Estava frio, mas o tempo estava aberto e eu comecei a subida (e que subida) sozinha, sem avistar ninguém a frente ou atrás. 




Meus pensamentos jorravam, eu andava cantarolando algo que até agora não sei o que era, a neblina começou a descer e eu resolvi parar um pouco para esperar alguém passar. Quem sabe Fabrício apareceria, pois eu sabia que ele havia saído depois de mim. A visibilidade era péssima e nem sinal de peregrinos por perto. Tirei a mochila, encostei o cajado em uma árvore e sentei no chão!




 Neste momento senti a presença de meu avô, não sei como explicar, mas ele estava comigo. Foi quando numa espécie de transe imagens da minha vida começaram a surgir como slides… era minha infância, adolescência, meu casamento, meus filhos, minha vida estava sendo apresentada como se eu fosse uma simples espectadora, sentimentos de tristeza e alegria se fundiam, uma ponta de medo apareceu, mas eu sentia que não estava só!
A neblina estava densa e a sensação era de estar no céu! Não sei quanto tempo permaneci naquela posição, imóvel, até que num impulso repentino comecei a pegar pedras e escrever o nome de meu avô, como se estivesse agradecendo por algo que ainda não estava muito claro para mim.
A solidão estava me fazendo bem!


Coloquei a mochila, peguei meu cajado e segui, sem enxergar muito bem, e pela primeira vez senti muita vontade de fazer xixi e certamente não teria nenhum banheiro por perto… Não pensei duas vezes, as montanhas eram minhas amigas e não diriam nada! Eu estava só! Verdadeiramente só!
Demorei bastante tempo para atravessar aquela etapa e ninguém apareceu!
Cheguei a Vega de Valcarce onde sabia ter um albergue Brasileiro! Queria entrar, conversar… Vi a bandeira brasileira e um senhor italiano que andava a alguns metros atrás de mim gritou: “Brasil!!!” eu acenei para ele e entrei! A hospitaleira veio em minha direção e eu disse: “Olá, sou brasileira e queria um carimbo na minha credencial”, ela apontou para uma mesinha perto da porta e disse: “Está ali” virou as costas e saiu. Caraca que tratamento! Decepcionada com o tratamento da brasileira carimbei minha credencial e parti para enfrentar a subida do Cebreiro!


Foi a etapa mais difícil para mim, ainda mais difícil que os Pirineus! O frio era muito grande, a subida muito acentuada e a neblina não me permitia ver nada! Eu parava de vez em quando, apoiava em meu cajado (santo cajado) e pensava: “Eu, a super peregrina não vou conseguir chegar ao Cebreiro”. Mas consegui, cheguei por volta das 17 horas e todos meus amigos já estavam por lá, inclusive o Fabrício!
Depois que tomei um bom banho quente fui com Fabrício e os alemães ao bar para beber algo e depois jantar! Que frio era aquele! Fabrício acostumado ao calor de Salvador quase caiu duro e eu tremia sem parar!
No jantar comemos polvo (bem gostoso)!


Que dia duro! Percebi que o final do caminho estava próximo e me senti estranha com isso… engraçado, mas esta mesma sensação estranha, de um grande vazio volta agora que estou chegando ao final dos meus relatos! Receber o apoio e os comentários carinhosos de amigos e de pessoas que nem conheço tem sido muito bom… Não queria que acabasse!!!


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