segunda-feira, 30 de março de 2015

Entrevista com a brasileira de 67 anos que chegou ao cume do Kilimanjaro (a montanha mais alta da África).






Muitos sonham em escalar montanhas... Mas isso pode parecer coisa somente para escaladores ou montanhistas experientes!
O tempo vai passando e quando percebemos perdemos tempo demais planejando, sonhando, colocando outras prioridades na frente e nosso sonho de estar lá no alto daquela desejada montanha ficou para traz! Acreditamos que não dá mais tempo!!!!
Aí vem uma brasileira, com seus 67 anos e seu neto com 14 e mostra que idade não impede!

Ana Maria Aratangy Pluciennik, 67 anos, médica aposentada e residente em São Paulo mostra que é possível! Chegou, acompanhada do Rafael (seu neto de 14 anos) ao cume da montanha mais alta da Africa... O Kilimanjaro!

Veja só como foi esta experiência com uma entrevista exclusiva que Ana Maria cedeu para o Mochila de Batom.

MB - Quando e como começou esta sua vontade de subir montanhas?
Ana Maria: Sempre me atraíram os esportes de aventuras. Lia bastante sobre eles, mas não tinha muito tempo de praticar. 

MB - Quais experiências você teve antes do Kilimanjaro?
Ana Maria: Além do acampamento base do Everest, subi  o Pico da Bandeira e, muitas vezes, o Corcovado de Ubatuba.

MB - Como foi sua preparação física para subir o Kilimanjaro?
Ana Maria: Fazia exercícios de musculação e aeróbicos em academia, até 5 vezes por semana, acompanhada 1 vez por semana por um personal trainer. Faço isso há 4 anos.

MB - Seu neto Rafael já demonstrava desejo de subir montanhas?
Ana Maria: Meu neto se interessou desde criança pelas montanhas. Ficou muito feliz quando subiu pela primeira vez o Corcovado de Ubatuba.


MB - A iniciativa de subir o Kilimanjaro partiu do Rafael, ou o convite partiu de você?
Ana Maria: O convite partiu de mim.

MB - Como sua família encarou sua vontade de subir o Kilimanjaro com o Rafael?
Ana Maria: Todos incentivaram. O pai e a mãe dele hesitaram um pouco mas acabaram permitindo. 

MB - Conte para nossos leitores como foi a experiência de subir o Kilimanjaro com seu neto:
Ana Maria: No dia 28 de dezembro fomos para o Parque Nacional do Kilimanjaro e começamos a trilha caminhando por uma floresta de pinheiros. Seguimos pela rota Rongai, partindo de 1.900 metros de altitude e parando para acampar a 2.600 metros. Mesmo estando em uma altitude considerável, sentimos calor nesse dia, pois o Kilimanjaro fica praticamente na linha do Equador.
É importante confessar que, desde o início da trilha – ou melhor, desde que me comprometi com essa empreitada – comecei a me preocupar com as dificuldades que teria pela frente. Havia pouco que eu podia fazer com antecedência para minimizá-las. Meses antes da partida fiz uma pequena mudança nos treinos, com aumento dos exercícios aeróbicos. Minhas maiores preocupações, no entanto, não eram com meu desempenho (estava bastante confiante) nem com o frio e as consequências da altitude. Esses eu já conhecia e acreditava poder lidar com eles. Para uma mulher da minha idade a falta de um banheiro pode ser um grande desafio. Havia até uma barraca-banheiro no acampamento mas, durante a noite, seu uso era impraticável. Já sabia que seria difícil, e realmente foi. Além de tudo, havia a preocupação com meu neto. Os muito jovens tendem a suportar menos a altitude do que os mais velhos. Além disso, ele não tinha nenhuma vivência de temperaturas negativas. Muitas vezes me perguntei se eu não o estava expondo a um risco exagerado, se ele teria condições de identificar uma situação limite e saber quando parar. Felizmente ele não teve nenhum problema com a altitude nem com o frio e foi um ótimo companheiro, nunca se queixando de nada.Voltando à trilha, no dia 29, subimos mais 1.000 metros e acampamos a 3.600 metros de altitude. Nesse dia senti um pouco de dor de cabeça, assim como outros membros do grupo. Também perdi a fome, mas me forcei a comer, cortando os alimentos em pedaços pequenos, engolindo com dificuldade. A perda de apetite se manteve nos dias seguintes, às vezes com pequena melhora. Continuei me alimentando bem, embora pensasse: “Quando eu sair daqui, vou passar dois dias sem comer! E sem beber!”. Porque, como todos, eu também estava tomando muita água, provavelmente mais do que o dobro do meu consumo habitual.No dia 30 chegamos à base do Mawenzi, a 4.330 metros de altitude. Um lugar lindo, envolto numa neblina misteriosa e com um tapete de nuvens embaixo. Quando a neblina sumia, tínhamos uma vista espetacular do Kilimanjaro. O pessoal de apoio local (cerca de 40 pessoas entre guias, carregadores, cozinheiros e ajudantes), para nossa admiração, ficou horas jogando futebol. Não estavam nem aí para a diminuição da pressão de oxigênio no ar.No último dia do ano, subimos as encostas do Mawenzi para aclimatar e voltamos a dormir em sua base. Senti que isso me fez bem e, quando partimos, no dia 1º de janeiro, eu estava muito disposta, embora bastante preocupada com o que vinha pela frente. Deixando o Mawenzi, caminhamos por um trecho longo de planalto até a base da encosta do Kilimanjaro. Lá acampamos, almoçamos e fomos descansar, em preparação para o ataque ao cume.
Como já estava claro para todos que eu andava mais devagar que o resto do grupo, resolvemos que eu sairia uma hora antes dos outros, acompanhada por um guia e um carregador (Kennedy e Temez). Parti às 11 da noite e o restante do grupo, à meia noite. Até cogitei em adotar outra estratégia, dormindo (ou tentando dormir) a noite toda e saindo às 7 da manhã do dia seguinte, com luz e, teoricamente, temperatura mais alta. Mas prolongar a ansiedade por mais oito horas seria insuportável.
Seguindo o meu guia, comecei a trilha com bastante energia. Não pude deixar de comparar com minha primeira tentativa, há 12 anos. Naquela ocasião, os primeiros passos já foram sofridos. Caminhamos durante toda a noite, com pausas rápidas para descanso – não mais do que 3 a 4 minutos – e pequenos goles de água quente. Apenas duas vezes comi alguma coisa: um docinho de banana e um biscoito. O frio estava intenso, perto de 15oC negativos, e os dedos de minhas mãos ficaram bastante doloridos. Sempre que parávamos o Kennedy massageava os meus dedos e, se eu sentava no chão para descansar, ele chutava os meus pés para manter a circulação. Já quase ao nascer do sol e bem perto da borda da cratera, o grupo passou por mim. Fiquei aliviada ao ver o Rafa bem.
Esse trecho é o mais difícil da subida. A inclinação é acentuada, o solo de areia, pequenas pedras e gelo, é bastante escorregadio. Imediatamente antes da borda, pedras grandes formam degraus desafiadores para quem passou a noite toda caminhando com pouco oxigênio.Depois desse trecho difícil, foi um alívio atingir a borda da cratera, o Gillman’s Point (5.685 metros). Fiz uma pausa um pouco mais longa, de cerca de 10 minutos e admirei o interior do vulcão, imenso, com suas geleiras incrustadas no solo de areia e pedra. A partir daí, seriam mais duas horas e meia contornando a borda da cratera para chegar a Uhuru. Embora tendo ainda 200 metros de altitude para vencer, a trilha era bem mais suave que no trecho final da encosta. O que atrapalhou foi o vento, muito forte, que fazia a sensação térmica diminuir ainda mais.
Cerca de 40 minutos antes de atingir Uhuru, cruzei novamente com o grupo. Todos vinham felizes, voltando com o dever cumprido. O Rafa estava ótimo e acho que se emocionou um pouco ao me ver quase chegando lá. Eu também me emocionei. Ele me entregou rapidamente a bandeira do Brasil e seguimos, cada um para seu lado. Esses últimos minutos não foram difíceis. Eu já tinha certeza que chegaria ao cume da montanha. Mesmo assim, o alívio e a alegria foram enormes às 9h27 da manhã do dia 02 de janeiro de 2015 quando, finalmente, atingi o ponto mais alto da África.
(O relato da experiência de Ana Maria foi retirado do site Extremos)

MB - Houve algum momento muito difícil para você? Qual a maior dificuldade encontrada? Em algum momento pensou em desistir?
Ana Maria: Além da falta de oxigênio e do frio, a maior dificuldade foi a falta de um banheiro. Não pensei em desistir.

MB - Qual foi o momento de maior emoção nesta experiência?
Ana Maria: A grande emoção foi quando percebi que atingiria o cume.



MB - Você já está pensando na próxima aventura? Conte quais seus planos.
Ana Maria: Sim, penso em fazer um trekking no Peru na cordilheira Huayhuash.

MB - Se fosse para aconselhar alguém que tem o sonho de subir altas montanhas o que diria?
Ana Maria: Além de providenciar equipamento adequado (roupas, botas etc), beber bastante água e alimentar-se bem. 

Quero agradecer a Ana Maria por ceder esta entrevista e também ao Daniel (seu filho que passou o contato dela) e ao amigo Raul Souza que ajudou muito para que esta entrevista pudesse ser realizada!

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Um comentário:

  1. muito show, faz anos que penso em ir ao Kilimanjaro, mas eu sofro muito de falta de ar e é isso que me deixa na dúvida. Parabéns.

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