Fui acordada no albergue de Sahagún por volta das 06h30min por meu companheiro de caminhada, o alemão Frank. Eu não queria levantar, estava com muito sono, na verdade tinha bebido um pouco a mais de vinho na noite anterior. De muito mau humor levantei… Para piorar a situação o restaurante do albergue estava fechado, o que significava nada de café da manhã! Estava frio e o sono me incomodava, seria uma longa etapa de 36 km, 5 km até o próximo pueblo para o café da manhã (ao menos era o que eu achava), mas estava enganada! O caminho não passava por dentro do próximo pueblo e seguimos em frente. Foram 10 km com fome e sono, numa reta que parecia não ter fim e sem nada para olhar! Uma poeira que entrava no meu nariz, um verdadeiro saco!
Quando chegamos a um bar em Bercianos del Real Camino encontrei Frank, Heiko e Tob (alemães) e Judh (australiana), sentei com eles, comi 2 pedaços de torta e tomei um chocolate quente, mas o meu humor não havia melhorado…
Avisei meus amigos que eu queria caminhar sozinha, eu era uma péssima companhia naquele dia, nem eu mesma estava me agüentando, eles entenderam e eu saí em passos lentos! Parecia uma tartaruga, ou uma lesma me arrastando pelo caminho. Caminhava ao lado de uma carreteira, num caminho com muita poeira e pedras, com o sol castigando impetuosamente e sem nenhuma sombra. O Caminho não estava bom e eu resmungava o tempo todo.
Após algum tempo caminhando, cheguei a uma cruz onde estavam Frank e Heiko à minha espera, e segui com meus amigos!
Encontro com Heiko e Frank (o Frank estava tirando a foto) Reparem na minha cara de desanimo.. |
O caminho estava mesmo um porre, o sol muito forte e eu muito cansada. Fui o tempo todo resmungando no ouvido do Frank (coitado dele, não sei se me entendia, mas eu não parava de choramingar e perguntar se ainda faltava muito e ele pacientemente dizia: “only twenty minutes”), porque o Heiko disparou na frente!
Muito Sol e poeira |
Depois de ter caminhado 30 km cheguei a Reliegos, logo no início um bar e Heiko sentado embaixo de um guarda sol. Sorrindo ele me disse: “Aqui tem uma brasileira que ouviu falar de você, ela disse até seu nome.”
Até que em fim uma coisa boa naquele dia!!!
Entrei no bar a procura da tal brasileira e conheci a Ana, uma carioca de 1,50m com o pé em carne viva e que tinha feito os últimos 12,5 km de havaianas, pois seu pé não entrava na bota! Mas o que mais me impressionou era o auto astral daquela garota, ela parecia feliz apesar de suas dores, não reclamou nenhum minuto. Tomava coca cola, comia rabanada e falava sem parar... Realmente impressionante! Fiquei algum tempo com ela e depois me despedi e parti.
No caminho eu caí na real: Eu havia andado 30 km com os pés perfeitos e sem nenhuma dor e mesmo assim não tinha parado de reclamar! Eu estava sendo estúpida e encontrar a Aninha foi um aviso importante.
Meu coração foi tomado por alegria e entusiasmo e eu comecei andar o mais rápido que pude. O Frank que me acompanhava perguntou por que eu estava correndo e eu expliquei que precisava chegar logo ao albergue, deixar minha mochila e voltar para ajudar a Ana, ele disse que eu era louca, mas uma boa peregrina, segurou minha mão e me fez andar ainda mais rápido! Quando olhei para o céu vi uma cruz e interpretei como mais um sinal!
Cruz no céu |
Foram os 6 km mais velozes do meu caminho. Passávamos correndo por todos e chegamos rapidamente em Mansilha de Las Mulas.
Chegamos ao albergue, joguei minha mochila na cama e voltei correndo, encontrando Ana depois de uns 4 km, andando pela carreteira com muita dificuldade. Peguei sua mochila e ela emocionada começou a me agradecer e eu disse que ela havia me ajudado muito mais. Depois de 1,5 km apareceu o Heiko e sorridente pegou a mochila para ajudar também.
Em Mansilla de las Mulas e depois de um banho gelado convidei a Ana para tomar uma canã com os alemães. Demos boas risadas e fui dormir com minha alma em paz, entendendo que minhas dores são sempre menores que de outras pessoas e agradecendo muito a oportunidade que me dei de estar vivendo tudo aquilo, porque as escolhas são nossas
Momento de descontração (este dia foram mais de 40 km para mim) |
Eu e a Ana |
Lindo post (como sempre)!
ResponderExcluirExemplo de que reclamar da vida não é a solução!
ATITUDE!!!
Bjs
Adorei a história,tenho um filho que está em Mansilhas de las mulas,a caminho de Santigo.Porisso estou lendo tudo!Estou vendo por onde ele está passando.Falo com ele no msn,depois pesquiso tudo.Bjs
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