sexta-feira, 29 de abril de 2011

O TEMPO

Depois de um ano morando em Santa Catarina, volto à São Paulo. A vida tranqüila da charmosa cidade praiana de Balneário Comburiu cedeu lugar ao corre corre frenético da cidade de pedra. O relógio parece mais acelerado, o tempo anda mais depressa por aqui e deixamos de fazer coisas que gostaríamos.
Pois é, mudei de cidade, mas minha essência permanece. Consigo encontrar tempo para ver o por do Sol que deita atrás de grandes edifícios, deixando o céu laranja, tempo para me lambuzar com um sorvete, tempo para sorrir, tempo para dizer bom dia, tempo para contar as gotas de chuva que caem no para brisa do carro, tempo para comer pipoca com manteiga, tempo para ir ao parque com meus filhos, tempo para uma cerveja com os amigos… Tempo para ser FELIZ!
E falando em tempo, li um dia destes (na verdade uma madrugada destas, porque o dia tem 24 horas… rs.) o texto do meu amigo mineiro Flavio Souza, intitulado “Das Inutilidades do Tempo”, e achei fantástico. Quero dividir com vocês.
Boa leitura!

"Enquanto alinhava os distorcidos fios da sombrancelha, lhe ocorreu a idéia de que seu dedo e mão estavam próximos de seus olhos. Dava para ver a luz embaçada entre os dedos e o anel que brilhava dourado, destacando-se no conjunto. O dedo médio e o indicador roçavam os fios como num cafuné desinteresado. Passou então a abrir os dedos e a fechar, cada um como se fosse um take de cinema. A brincadeira fazia ver as coisas diferentes e toda a velha conhecida prateleira de objetos agora era um mundo. Escalou livros, deslizou por lapiseiras, dançou no velho quadro, quase caindo pelas curvas da mesa. Pela porta da sala, inclinada agora em setenta graus, viu um fio correndo como rio pelo mapa carmim da parede. A parede dava para o corredor que dava para... lembrar do relógio rodopiando ponteiros a lhe esperar. De súbito lhe retornou a angústia de sempre, matizada agora com um apertar de olhos e contorcer da barriga. O tempo era dinheiro e o tempo naquela eternidade de novos olhares era nada. Rotulou tudo aquilo como inútil e se dispôs a contar quantos segundos perdera na sua existência. Tantas coisas poderia ter feito naquele momento imperfeito. De tudo lembrou do sol e suas vizinhas estrelas. Alpha Centauri, Sirius, Alpha, Teta, Gama... das estrelas passou ao infinito. Rodopiou a cadeira e se sentiu imerso no eterno, frágil como não podia deixar de ser. Sentiu então a inutilidade de tudo e o vazio de estar ali a roubar segundos de si mesmo. Segurou nas mãos o ordenado relógio, puxou 5 minutos do ponteiro para trás. Voltou para cadeira e ficou a imaginar um jeito de dizer a si mesmo que tudo o que de fato tinha sentido e de fato o agradava, não tinha utilidade neste mundo. Abençoadamente dormiu, lembrando por último que quando criança gabava-se sempre de dizer aos coleguinhas de sala que o infinito, por ter início, era sempre menor que o eterno."
                                                         
                                                                            Flávio SousaBlog do Flávio: http://epifaniabr.blogspot.com/2003/05/enquanto-alinhava-os-distorcidos-fios.html

Cidade de Pedra

3 comentários:

  1. Ainda bem, que existe alguém no planeta que tem tempo para ser feliz! E, quanto à mim,gosto de lhe acompanhar em seu blog... e, espero que esse seja sempre seu caminho.

    Bj. Rsssrsrsrsr....!!!!

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  2. Ah!!!O tempo!!
    Parece que nunca acompanha meu rítmo.
    Anda rápido quando quero aproveitá-lo...e tão lerdo quando preciso que corra.

    No momento ... estou a mil planejando o "meu caminho"...e ele lerdano como sempre.Parece que adora me contrariar!
    rs..rs..
    Preciso me dedicar mais a meditação.Ando desleixada.
    Acho que só assim eu e o tempo faremos as pazes.
    Talvez seja essa a lição.
    _ Hei Mulher!!
    Acorda...e vem descansar comigo...ao sabor do vento..do calorzinho gostoso.
    Vamos viajar juntos no NOSSO TEMPO.


    beijocas azuis querida!
    Amo ler seu espaço

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  3. Oi Babaloo!
    Li todos os relatos até agora de sua caminhada rumo a Compostela.
    Sabe que desde que soube desse caminho achei demais, fazer um encontro com nós mesmos, onde não conseguimos fazer em nosso cotidiano.
    Espero fazer um dia esse caminho também, e se fizer vou te pedir dicas da jornada, rs.
    Prazer enorme te conhecer Babaloo, e a gente se fala!
    Bjos.
    Toli / Tatu

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