Acordei
bem cedo, arrumei a mochila silenciosamente e deixei o dormitório do albergue
de Santiago. Caminhei até uma espécie de refeitório e encontrei a minha espera
Frank, Heiko e Tobi (alemães) e Andera (italiano). Fomos até porta de saída do
albergue e lá me despedi (mais uma vez) de Andrea, provavelmente esta seria a
ultima vez que nos viríamos, nossa ultima despedida. Perguntei por que não iria
até Finisterra e ele me explicou que seu caminho chegara ao fim. Santiago era
sua parada final. Abraçamo-nos com votos de boa sorte e saímos. Eu estava
feliz!
Sentia-me
leve. Brincava com meu cajado, girando-o de um lado para o outro… Santiago
estava num sono profundo!
Estávamos
novamente em frente à Catedral para mais um adeus! Frank não iria conosco!
Achei que a despedida seria mais difícil! Entreguei a ele minha bandana do
Brasil, era como se eu não quisesse acreditar que meu “anjo da guarda” não iria
comigo! Durante o caminho, sempre que precisávamos atravessar uma auto-estrada
ou uma rua movimentada Frank segurava minha mão, pois dizia que eu era
distraída! Tinha que ser sempre a mão esquerda, porque ele só tinha um braço!
No momento da nossa despedida ele fez Tobi prometer que me daria a mão para
atravessar as ruas! Rimos e nos abraçamos!
Meu
coração estava apertado, uma lágrima tímida pulou do meu olho, mas algo me
dizia que nos viríamos novamente!
Parti sem
olhar para traz!
A saída
de Santiago não foi muito fácil, não havia muitas setas amarelas, mas
finalmente cheguei a um bosque lindo!
Caminhava
feliz! Eram poucos peregrinos que passavam. Caminhava em meio a uma natureza
viva! Muitas árvores, pássaros, riachos de águas cristalinas, povoados bem
pequenos esquecidos no tempo, rios imponentes e Pontes Medievais me
direcionavam ao passado e minha imaginação corria solta, imaginando como
viveriam as donzelas e cavalheiros de épocas remotas!
Era tudo
muito lindo e meu coração estava em festa! Partira a muitos dias das montanhas
de Saint Jean, ainda na França e agora estava a caminho do mar! Sentia sempre a
presença de meu avô que foi um eterno viajante, vindo a Terra a passeio! Meu
avô fez sua viagem final quando eu estava para completar 18 anos! Morrera na
minha frente, de forma inesperada, uma ataque fulminante o levaria para uma
jornada sem volta. Fiquei durante anos e anos me culpando
por nunca ter lhe dito “EU TE AMO”, mas agora eu podia dizer e sabia que ele
podia ouvir! Foi um português do mundo, sem parada e que amava estar perto do
mar… Sim, eu caminhava em direção ao mar e sabia que meu querido avô estava
comigo, em minhas lembranças, em meu coração... Ele estava lá! Feliz!
O Sol
estava forte, o que deixava a paisagem com mais cores!
Passei por
Negreira, depois de caminhar 18 km. Uma cidade com boa infra estrutura para
peregrinos! Parei para almoçar, fui ao mercado onde comprei água, chocolate e
morangos e segui em frente!
Os
vilarejos eram bem rurais e muito pequenos! Sabia que encontraria um albergue
para peregrinos em Vilasério. Bem, o albergue se resumia em uma escola
abandonada, com colchões no chão, alguns banheiros e dois chuveiros… Detalhe:
Não havia trancas em nenhuma porta, inclusive nas dos banheiros! Outro detalhe:
O albergue estava lotado e não tinha mais como colocar colchões do lado de
dentro! Solução: DORMIR AO RELENTO!
Com
alguns colchões do lado de fora lavei algumas roupas e coloquei para secar em
um varal improvisado!
Conheci
uma austríaca, Fabian, garota muito bonita que fazia o caminho de bicicleta. Já
percorrera 1700 km de bike!
Ela
juntou-se a nós e fomos jantar em um bar. Na volta trouxemos algumas garrafas
de vinho para espantar o frio da noite e ao passar por uma casa vimos uma
senhora toda de preto que gritava com as galinhas… Em couro soltamos um Buenas
Noches e como resposta recebemos um “Borracheros” (bêbados)!
Aquela
senhora era assustadora! Parecia uma bruxa de contos infantis! Aliás, aquele
vilarejo era assustador! Só havia mulheres, idosos e muitas galinhas!
Foi
difícil pegar no sono com aquele teto de estrelas sobre minha cabeça. Estava
sob a Via Láctea e me lembrei de uma passagem do Pequeno Príncipe: “… as
estrelas são todas iluminadas… Não será para que cada um possa um dia encontrar
a sua?” Fiquei aí, procurando a minha estrela, até o sono se aproximar de
mansinho e me levar para as profundezas de meus sonhos… Lindos naquela noite
estrelada!
Minha jornada estava quase no final... Vamos continuar comigo?
MUITO INTERESSANTE!
ResponderExcluirPARA QUANDO O CAMINHO CENTRAL PORTUGUÊS?
Olá Carlos, obrigada por seu comentário... Fazer o Caminho Central Português está em meus planos, mas sem data marcada ainda! Ultreia!
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