segunda-feira, 16 de março de 2015

Caminho de Finisterre – 1a. Etapa: Santiago a Vilasério (35km)

Acordei bem cedo, arrumei a mochila silenciosamente e deixei o dormitório do albergue de Santiago. Caminhei até uma espécie de refeitório e encontrei a minha espera Frank, Heiko e Tobi (alemães) e Andera (italiano). Fomos até porta de saída do albergue e lá me despedi (mais uma vez) de Andrea, provavelmente esta seria a ultima vez que nos viríamos, nossa ultima despedida. Perguntei por que não iria até Finisterra e ele me explicou que seu caminho chegara ao fim. Santiago era sua parada final. Abraçamo-nos com votos de boa sorte e saímos. Eu estava feliz!

Sentia-me leve. Brincava com meu cajado, girando-o de um lado para o outro… Santiago estava num sono profundo!

Estávamos novamente em frente à Catedral para mais um adeus! Frank não iria conosco! Achei que a despedida seria mais difícil! Entreguei a ele minha bandana do Brasil, era como se eu não quisesse acreditar que meu “anjo da guarda” não iria comigo! Durante o caminho, sempre que precisávamos atravessar uma auto-estrada ou uma rua movimentada Frank segurava minha mão, pois dizia que eu era distraída! Tinha que ser sempre a mão esquerda, porque ele só tinha um braço! No momento da nossa despedida ele fez Tobi prometer que me daria a mão para atravessar as ruas! Rimos e nos abraçamos!

Meu coração estava apertado, uma lágrima tímida pulou do meu olho, mas algo me dizia que nos viríamos novamente!

Parti sem olhar para traz!

A saída de Santiago não foi muito fácil, não havia muitas setas amarelas, mas finalmente cheguei a um bosque lindo!


Caminhava feliz! Eram poucos peregrinos que passavam. Caminhava em meio a uma natureza viva! Muitas árvores, pássaros, riachos de águas cristalinas, povoados bem pequenos esquecidos no tempo, rios imponentes e Pontes Medievais me direcionavam ao passado e minha imaginação corria solta, imaginando como viveriam as donzelas e cavalheiros de épocas remotas!


Era tudo muito lindo e meu coração estava em festa! Partira a muitos dias das montanhas de Saint Jean, ainda na França e agora estava a caminho do mar! Sentia sempre a presença de meu avô que foi um eterno viajante, vindo a Terra a passeio! Meu avô fez sua viagem final quando eu estava para completar 18 anos! Morrera na minha frente, de forma inesperada, uma ataque fulminante o levaria para uma jornada sem volta. Fiquei durante anos e anos me culpando por nunca ter lhe dito “EU TE AMO”, mas agora eu podia dizer e sabia que ele podia ouvir! Foi um português do mundo, sem parada e que amava estar perto do mar… Sim, eu caminhava em direção ao mar e sabia que meu querido avô estava comigo, em minhas lembranças, em meu coração... Ele estava lá! Feliz!

O Sol estava forte, o que deixava a paisagem com mais cores!
Passei por Negreira, depois de caminhar 18 km. Uma cidade com boa infra estrutura para peregrinos! Parei para almoçar, fui ao mercado onde comprei água, chocolate e morangos e segui em frente!



Os vilarejos eram bem rurais e muito pequenos! Sabia que encontraria um albergue para peregrinos em Vilasério. Bem, o albergue se resumia em uma escola abandonada, com colchões no chão, alguns banheiros e dois chuveiros… Detalhe: Não havia trancas em nenhuma porta, inclusive nas dos banheiros! Outro detalhe: O albergue estava lotado e não tinha mais como colocar colchões do lado de dentro! Solução: DORMIR AO RELENTO!

Com alguns colchões do lado de fora lavei algumas roupas e coloquei para secar em um varal improvisado!



Conheci uma austríaca, Fabian, garota muito bonita que fazia o caminho de bicicleta. Já percorrera 1700 km de bike!

Ela juntou-se a nós e fomos jantar em um bar. Na volta trouxemos algumas garrafas de vinho para espantar o frio da noite e ao passar por uma casa vimos uma senhora toda de preto que gritava com as galinhas… Em couro soltamos um Buenas Noches e como resposta recebemos um “Borracheros” (bêbados)!

Aquela senhora era assustadora! Parecia uma bruxa de contos infantis! Aliás, aquele vilarejo era assustador! Só havia mulheres, idosos e muitas galinhas!


Foi difícil pegar no sono com aquele teto de estrelas sobre minha cabeça. Estava sob a Via Láctea e me lembrei de uma passagem do Pequeno Príncipe: “… as estrelas são todas iluminadas… Não será para que cada um possa um dia encontrar a sua?” Fiquei aí, procurando a minha estrela, até o sono se aproximar de mansinho e me levar para as profundezas de meus sonhos… Lindos naquela noite estrelada!

Minha jornada estava quase no final... Vamos continuar comigo?

2 comentários:

  1. MUITO INTERESSANTE!
    PARA QUANDO O CAMINHO CENTRAL PORTUGUÊS?

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    1. Olá Carlos, obrigada por seu comentário... Fazer o Caminho Central Português está em meus planos, mas sem data marcada ainda! Ultreia!

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