sexta-feira, 20 de março de 2015

Caminho de Finisterre – 3a. Etapa: Cee a Finisterra (morte para o renascimento)

Novamente sentimentos adversos tomavam conta de mim. Saudade da casa, da família e… saudade do Caminho que mais uma vez estava para terminar!

Deixei meus amigos seguirem na frente e fui um pouco mais lenta, como se quisesse prorrogar o inevitável!

Aproveitei os últimos quilômetros para agradecer a companhia de meu pai (avô)… Ele ainda estava ao meu lado! Queria ver o mar! E agradecia por ter tido a coragem de partir e encontrar o que a tempos havia perdido... Eu mesma!

Um filme passava pela minha cabeça, era inacreditável tudo que se passara comigo! As lágrimas tornaram-se inevitáveis, principalmente quando passei pela praia próxima a Finisterra.

O dia não estava tão ensolarado o que me deixava mais melancólica e a passos lentos eu seguia rumo ao Fim das Terras!


Sem saber uma surpresa maravilhosa esperava por mim! Quanta alegria! Ao entrar em Finisterra, próximo à estação de ônibus estavam eles… a minha espera! Segura emoção! Andreia (italiano), grande amigo no Caminho. Judh (australiana), os italianos Dário e Fellipo que encontrei em muitas etapas e… ele, meu anjo da guarda. Frank (alemão). Todos a minha espera!


Pudemos chegar todos juntos ao final! Cheguei ao marco zero e mais à frente estava o mar… infinito!


Parecia mesmo o fim do mundo e os peregrinos que ali estavam pareciam voltar para dentro de si! Encontrei um cantinho e lá fiquei a contemplar o horizonte, mal conseguia acreditar que eu estava ali… parecia um sonho lindo! Agora realmente acabara e o desfecho do meu Caminho era MARAVILHOSO! Choro convulsivo, choro de muitos sentimentos fundidos num só: GRATIDÃO!


Heiko chamou-me. Chegara o momento do ritual da queima de roupa da peregrinação. Procuramos um local protegido do vento e queimei uma camiseta e uma meia (que estava furada)… Era como a Fênix, renascendo das cinzas e pronta para trilhar outros caminhos! O fogo consumiu rapidamente as peças… era o símbolo da renovação! E assim eu me sentia… Renovada!




Encontramos Fabian, a garota austríaca que percorrera 1700 km com sua bike! Ela contou que durante todo percurso sua bicicleta nunca apresentara problemas e que ao chegar ao Cabo quebrou! Era hora de voltar para casa!

Para comemorar Andreia trouxe uma Torta de Santiago e uma garrafa de vinho! Que delícia…


Descemos a enorme ladeira que nos levou ao Cabo e fomos a um bar em frente ao terminal de ônibus! Judh, Andreia e Frank partiriam!

Judh estava muito emocionada! Lágrimas tímidas insistiam em aparecer! Abraçamos-nos desejando uma boa vida!

Andreia me deu um abraço apertado e nos desejamos muita sorte e sucesso!

Agora Frank partiria e desta vez eu sentia que era para sempre… Depois de despedir-se de todos era minha vez, fiquei por ultimo! Durante todo o Caminho Frank sempre me dizia: “You are a good girl!” (você é uma boa garota) o que me deixava feliz e ciente da minha capacidade de amar o próximo! Naquele momento de despedida ele segurou meu rostos e olhando profundamente em meus olhos disse: “You are not a good girl” (você não é uma boa garota), por alguns segundos me perguntei o que eu tinha feito de errado, então com um largo sorriso ele finalizou: “You are a good woman” (você é uma boa mulher)! Eu não queria chorar, mas era impossível! Abraçamos-nos emocionados e Frank partiu…
Adeus meu amigo!


 Algumas frases de Frank ficarão para sempre comigo: “You are a good girl”, “Tomorrow is another Day, a good Day” (amanhã será um outro dia, um bom dia) “Yes, you can” (sim, você pode) “Cerveza is good for the legs” (cerveja faz bem para as pernas) e sempre que eu perguntava se faltava muito para chegar ele, pacientemente respondia “Only twenty minuts” (só vinte minutos) sempre…!

Mais tarde Hiohana (holandesa) juntou-se a nós e fomos ver o por do sol em uma praia! Estávamos todos felizes! Alguns tiveram coragem e entraram no mar, inclusive Hiohana que só de calcinha corria feliz pulando as ondas e atirando-se ao mar, eu com cara de paisagem fingia achar aquilo muito normal! Não entrei, a água estava fria demais para uma brasileira!



O Sol beijou o Mar e o céu ficou laranja! Era um espetáculo da natureza promovido por Gaya que encerrava minha peregrinação, escerrava um ciclo, e como fui feliz!






No dia seguinte iria para Muxia, de ônibus… Não percam!

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