Novamente
sentimentos adversos tomavam conta de mim. Saudade da casa, da família e…
saudade do Caminho que mais uma vez estava para terminar!
Deixei
meus amigos seguirem na frente e fui um pouco mais lenta, como se quisesse
prorrogar o inevitável!
Aproveitei
os últimos quilômetros para agradecer a companhia de meu pai (avô)… Ele ainda
estava ao meu lado! Queria ver o mar! E agradecia por ter tido a coragem de partir e encontrar o que a tempos havia perdido... Eu mesma!
Um filme
passava pela minha cabeça, era inacreditável tudo que se passara comigo! As
lágrimas tornaram-se inevitáveis, principalmente quando passei pela praia
próxima a Finisterra.
O dia não
estava tão ensolarado o que me deixava mais melancólica e a passos lentos eu
seguia rumo ao Fim das Terras!
Sem saber
uma surpresa maravilhosa esperava por mim! Quanta alegria! Ao entrar em
Finisterra, próximo à estação de ônibus estavam eles… a minha espera! Segura
emoção! Andreia (italiano), grande amigo no Caminho. Judh (australiana), os
italianos Dário e Fellipo que encontrei em muitas etapas e… ele, meu anjo da
guarda. Frank (alemão). Todos a minha espera!
Pudemos
chegar todos juntos ao final! Cheguei ao marco zero e mais à frente estava o
mar… infinito!
Parecia
mesmo o fim do mundo e os peregrinos que ali estavam pareciam voltar para
dentro de si! Encontrei um cantinho e lá fiquei a contemplar o horizonte, mal
conseguia acreditar que eu estava ali… parecia um sonho lindo! Agora realmente
acabara e o desfecho do meu Caminho era MARAVILHOSO! Choro convulsivo, choro de
muitos sentimentos fundidos num só: GRATIDÃO!
Heiko
chamou-me. Chegara o momento do ritual da queima de roupa da peregrinação.
Procuramos um local protegido do vento e queimei uma camiseta e uma meia (que
estava furada)… Era como a Fênix, renascendo das cinzas e pronta para trilhar
outros caminhos! O fogo consumiu rapidamente as peças… era o símbolo da
renovação! E assim eu me sentia… Renovada!
Encontramos
Fabian, a garota austríaca que percorrera 1700 km com sua bike! Ela contou que
durante todo percurso sua bicicleta nunca apresentara problemas e que ao chegar
ao Cabo quebrou! Era hora de voltar para casa!
Para
comemorar Andreia trouxe uma Torta de Santiago e uma garrafa de vinho! Que
delícia…
Descemos
a enorme ladeira que nos levou ao Cabo e fomos a um bar em frente ao terminal
de ônibus! Judh, Andreia e Frank partiriam!
Judh
estava muito emocionada! Lágrimas tímidas insistiam em aparecer! Abraçamos-nos
desejando uma boa vida!
Andreia
me deu um abraço apertado e nos desejamos muita sorte e sucesso!
Agora
Frank partiria e desta vez eu sentia que era para sempre… Depois de despedir-se
de todos era minha vez, fiquei por ultimo! Durante todo o Caminho Frank sempre
me dizia: “You are a good girl!” (você é uma boa garota) o que me deixava feliz
e ciente da minha capacidade de amar o próximo! Naquele momento de despedida
ele segurou meu rostos e olhando profundamente em meus olhos disse: “You are
not a good girl” (você não é uma boa garota), por alguns segundos me perguntei
o que eu tinha feito de errado, então com um largo sorriso ele finalizou: “You
are a good woman” (você é uma boa mulher)! Eu não queria chorar, mas era impossível!
Abraçamos-nos emocionados e Frank partiu…
Adeus meu
amigo!
Algumas
frases de Frank ficarão para sempre comigo: “You are a good girl”, “Tomorrow is
another Day, a good Day” (amanhã será um outro dia, um bom dia) “Yes, you can”
(sim, você pode) “Cerveza is good for the legs” (cerveja faz bem para as
pernas) e sempre que eu perguntava se faltava muito para chegar ele,
pacientemente respondia “Only twenty minuts” (só vinte minutos) sempre…!
Mais
tarde Hiohana (holandesa) juntou-se a nós e fomos ver o por do sol em uma
praia! Estávamos todos felizes! Alguns tiveram coragem e entraram no mar,
inclusive Hiohana que só de calcinha corria feliz pulando as ondas e
atirando-se ao mar, eu com cara de paisagem fingia achar aquilo muito normal!
Não entrei, a água estava fria demais para uma brasileira!
O Sol
beijou o Mar e o céu ficou laranja! Era um espetáculo da natureza promovido por Gaya que encerrava minha peregrinação, escerrava um ciclo, e como fui feliz!
No dia
seguinte iria para Muxia, de ônibus… Não percam!
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